domingo, 11 de março de 2018

Sobre o Filme Patch Adams, O Amor é Contagioso. Ética e Psicanálise


A psicologia e a psicanálise relacionam-se com o comportamento humano, manifesto e inconsciente. Para tanto, não faltam materiais de análise sobre a diversidade de expressões humanas. Sendo assim, escolho como material de reflexão sobre conceitos psicanalíticos, cenas do filme Patch Adams, o amor é contagioso.

Quero aqui lidar com os conceitos psicanalíticos de desejo e melancolia, sobre certas cenas do filme. Lembremos que o desejo nasce com as primeiras vivências de satisfação, com a formação do aparelho psíquico; e que, invariavelmente, o desejo se vincula ao objeto de sua satisfação. É necessário que algo nos desperte o desejo a fim de nos movimentarmos em relação a esse mesmo algo – o objeto. Dito isto, cito a cena do filme na qual Patch Adams, interpretado por Robin Williams, decide se internar num hospital psiquiátrico, depois de uma frustrada tentativa de suicídio. Nesta instituição, Patch interage com outros internos e, após perceber que pode auxiliá-los de alguma maneira, nasce nele o desejo de ajudar outras pessoas através da medicina. Vemos aqui que o desejo impulsiona Patch Adams para uma nova postura diante da vida, o que o leva a deixar o hospital no qual se internara e a cursar medicina.

Já durante sua formação, Patch conhece uma moça que virá a ser sua namorada ao longo da trama. Ela é Carin Fisher, interpretada por Monica Potter. Os dois começam um relacionamento amoroso (não sem antes alguma resistência por parte de Carin) e compartilham agradáveis experiências juntos. Notemos aqui que os momentos vividos por ambos os personagens trazem satisfação e gozo aos mesmos, o que nos leva a concluir que eles procuram a companhia um do outro com o objetivo de repetir essas experiências agradáveis. Lembremos que uma característica do desejo é a sua repetição; isto poderemos explorar nas associações seguintes.

Após um período de felicidade na vida de Patch, devido ao seu desempenho acadêmico e a sua boa relação amorosa, uma tragédia, porém, lhe sobrevém. A namorada dele, Carin, é assassinada por um psicopata. Atingido por enorme dor, Patch Adams se afasta de suas atividades universitárias e, consequentemente, deixa de criar momentos de alegria para seus pacientes e outras pessoas. Observemos aqui um acontecimento que vai ao encontro de outro conceito da psicanálise: a melancolia. Com a morte de Carin, Patch se torna profundamente triste, configurando em sua vida um quadro de melancolia. Freud (1917) descreve tal comportamento como um estado de ânimo profundamente doloroso, desinteresse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição geral da capacidade de realizar tarefas e pela depreciação do sentimento de Si, com censuras e insultos a si mesmo.

A descrição da melancolia feita cima é exatamente a situação vivida por Adams após a perda de seu objeto de amor. Observemos que este quadro de profunda dor sucede a todos nós, quando investimos demasiada quantidade de energia psíquica sobre um alvo (objeto) de nossos desejos. Com a eventual perda daquilo que dizíamos amar, somos abatidos por uma brutal sensação de incapacidade diante do mundo e das tarefas diárias. Não é mais possível repetir situações com algo ou alguém que nos proporcionava enorme prazer. Na melancolia o próprio Eu do indivíduo sente-se empobrecido e sem forças. Devemos considerar em nossas reflexões que tanto os conceitos de desejo e melancolia vinculam-se ao inconsciente. Sendo a melancolia um estado de perda do objeto que escapa à consciência, pois a pessoa não sabe responder exatamente o que se perdeu dentro dela com o desaparecimento do que lhe era amado.

No filme, após esforços para sair de situação tão constrangedora, Patch decide dar sentido novo à dor que o incomoda. Assim, ele volta a desempenhar suas atividades, utilizando essa mesma dor como impulso novo diante de suas atividades profissionais. Percebamos aqui que mesmo quando estava limitado pela depressão, havia no íntimo de Patch Adams o desejo para realizar sua própria melhora. A fim de não divagarmos muito, resta apenas pontuar que o desejo está sempre presente em nossas vidas, em qualquer situação que nos encontremos.

segunda-feira, 5 de março de 2018



Atividade 12 - Paixões e Psicanálise

Freud sempre considerou o ser humano como parte de uma natureza, estando este, então, sujeito as mesmas leis e causas naturais que governam qualquer outro ser vivo. Assim, para tal comportamento emitido pelos indivíduos, haveria uma causa natural que o desencadeasse, fosse esse comportamento saudável ou patológico.

Lembremos que Freud era neurologista e que tencionava explicar toda a gama de comportamentos humanos através dos estudos e pesquisas dos neurônios. Prosseguindo nesta direção, Freud demonstra que estímulos percorrem os neurônios do sistema nervoso e que estes estímulos procuram escoar-se e, também, reservar uma quota mínima a fim de manter seu nível constante. Todo esse processo de escoamento, retenção e conservação de estímulos pelos neurônios tem como função controlar o princípio de prazer e, consequentemente, guiar os sujeitos em suas necessidades de vida.

Atentemos ao fato que Freud constantemente fala sobre quantidades de estímulos, o que deixa claro a função quantitativa do sistema nervoso. Deste modo funções como a percepção e recordação são exercidas. Apesar de a explicação quantitativa demonstrar como certas atividades são exercidas pelo organismo, ela não dá conta de elucidar as verdadeiras motivações de nossas ações e outros comportamentos. Isto obriga Freud a reconhecer um ponto de vista qualitativo também existente no funcionamento e constituição das funções mentais e psíquicas.

Mais adiante em seus trabalhos, Freud compreende que muitos dos comportamentos patológicos de seus pacientes estariam além da mera intensidade e quantidade variáveis de estímulos. Haveria algo mais na psique humana que precisava ser investigado; algo de teor qualitativo que exigia atenção fora do campo da consciência. Embora concordasse com pensadores como Condillac a respeito de alguns processos sensoriais e como estes interferem nas produções mentais dos sujeitos, Freud dá um passo muito importante com relação a processos inconscientes que ocorrem na vida mental de todos nós. Longe de serem coisas fora da compreensão humana, o pai da psicanálise se esforça para demonstrar como tais processos seguem determinadas leis estabelecidas pela psique, sendo, portanto, uma atividade de cunho natural na constituição dos indivíduos. Mais tarde teorias seriam elaboradas com respeito ao aparelho psíquico e sua relação inconsciente de obtenção de prazer e, consequentemente, o evitar de seu oposto, o desprazer. Tal elucidação seria de grande importância para explicar determinados comportamentos e motivações realizados pelos seres humanos.

Totem e Tabu

Em Totem e Tabu, Freud analisa e discute a organização das sociedades ditas primitivas com base nas relações destas com seus totens ...