A psicologia e a
psicanálise relacionam-se com o comportamento humano, manifesto e inconsciente.
Para tanto, não faltam materiais de análise sobre a diversidade de expressões
humanas. Sendo assim, escolho como material de reflexão sobre conceitos psicanalíticos,
cenas do filme Patch Adams, o amor é
contagioso.
Quero aqui lidar com os
conceitos psicanalíticos de desejo e melancolia, sobre certas cenas do filme. Lembremos
que o desejo nasce com as primeiras vivências de satisfação, com a formação do
aparelho psíquico; e que, invariavelmente, o desejo se vincula ao objeto de sua
satisfação. É necessário que algo nos desperte o desejo a fim de nos
movimentarmos em relação a esse mesmo algo – o objeto. Dito isto, cito a cena
do filme na qual Patch Adams, interpretado por Robin Williams, decide se internar num hospital psiquiátrico, depois
de uma frustrada tentativa de suicídio. Nesta instituição, Patch interage com
outros internos e, após perceber que pode auxiliá-los de alguma maneira, nasce
nele o desejo de ajudar outras pessoas através da medicina. Vemos aqui
que o desejo impulsiona Patch Adams para uma nova postura diante da vida, o que
o leva a deixar o hospital no qual se internara e a cursar medicina.
Já durante sua
formação, Patch conhece uma moça que virá a ser sua namorada ao longo da trama.
Ela é Carin Fisher, interpretada por Monica Potter. Os dois começam um
relacionamento amoroso (não sem antes alguma resistência por parte de Carin) e
compartilham agradáveis experiências juntos. Notemos aqui que os momentos
vividos por ambos os personagens trazem satisfação e gozo aos mesmos, o que nos
leva a concluir que eles procuram a companhia um do outro com o objetivo de repetir
essas experiências agradáveis. Lembremos que uma característica do desejo é a
sua repetição; isto poderemos explorar nas associações seguintes.
Após um período de
felicidade na vida de Patch, devido ao seu desempenho acadêmico e a sua boa
relação amorosa, uma tragédia, porém, lhe sobrevém. A namorada dele, Carin, é
assassinada por um psicopata. Atingido por enorme dor, Patch Adams se afasta de
suas atividades universitárias e, consequentemente, deixa de criar momentos de
alegria para seus pacientes e outras pessoas. Observemos aqui um acontecimento
que vai ao encontro de outro conceito da psicanálise: a melancolia. Com a morte
de Carin, Patch se torna profundamente triste, configurando em sua vida um
quadro de melancolia. Freud (1917) descreve tal comportamento como um estado de
ânimo profundamente doloroso, desinteresse pelo mundo externo, perda da
capacidade de amar, inibição geral da capacidade de realizar tarefas e pela
depreciação do sentimento de Si, com censuras e insultos a si mesmo.
A descrição da
melancolia feita cima é exatamente a situação vivida por Adams após a perda de
seu objeto de amor. Observemos que este quadro de profunda dor sucede a todos
nós, quando investimos demasiada quantidade de energia psíquica sobre um alvo
(objeto) de nossos desejos. Com a eventual perda daquilo que dizíamos amar,
somos abatidos por uma brutal sensação de incapacidade diante do mundo e das
tarefas diárias. Não é mais possível repetir situações com algo ou
alguém que nos proporcionava enorme prazer. Na melancolia o próprio Eu do
indivíduo sente-se empobrecido e sem forças. Devemos considerar em nossas
reflexões que tanto os conceitos de desejo e melancolia vinculam-se ao
inconsciente. Sendo a melancolia um estado de perda do objeto que escapa à
consciência, pois a pessoa não sabe responder exatamente o que se perdeu dentro
dela com o desaparecimento do que lhe era amado.
No filme, após esforços
para sair de situação tão constrangedora, Patch decide dar sentido novo à dor
que o incomoda. Assim, ele volta a desempenhar suas atividades, utilizando essa
mesma dor como impulso novo diante de suas atividades profissionais. Percebamos
aqui que mesmo quando estava limitado pela depressão, havia no íntimo de Patch
Adams o desejo para realizar sua própria melhora. A fim de não divagarmos
muito, resta apenas pontuar que o desejo está sempre presente em nossas vidas,
em qualquer situação que nos encontremos.