quinta-feira, 3 de maio de 2018

Totem e Tabu





Em Totem e Tabu, Freud analisa e discute a organização das sociedades ditas primitivas com base nas relações destas com seus totens e, invariavelmente, seus tabus em torno de algo ou alguém. Freud também considera as influências destes dois modelos passados até os nossos dias de hoje, no seio da sociedade moderna. Como amparo as suas ideias a respeito das características de sociedades primitivas e seus totens e tabus, Freud compara os comportamentos dos indivíduos dessas sociedades aos comportamentos dos neuróticos, vendo tal semelhança nos pensamentos obsessivos de seus pacientes neuróticos e no imaginário dos membros das comunidades primitivas estudadas.

Convém, entretanto, esclarecer o que vem a ser um totem. Segundo Freud (1923), via de regra um totem pode ser um animal, inofensivo ou não. Mais raramente também pode ser um vegetal ou fenômeno natural, como a chuva, por exemplo. Esses totens mantém uma relação toda especial com o clã que o venera. Nas palavras de Freud o “totem é o antepassado comum do clã; ao mesmo tempo é o seu espírito guardião e auxiliar que lhe envia oráculos, e embora perigoso para os outros, reconhece e poupa seus próprios filhos”. Obviamente é de se esperar que as sociedades que preservam alguma relação totêmica tenham alguns tipos de obrigações para com seu totem. Uma dessas relações chama a atenção de Freud de maneira especial: as relações sexuais. Segundo Freud em quase todos os lugares em que existem totens também existe uma lei contra as relações sexuais entre pessoas do mesmo totem e, consequentemente, contra o casamento entre essas pessoas. Tal prática seria uma exogamia; uma instituição relacionada ao totemismo. Com isto, temos a proibição do casamento entre pessoas da mesma família, ou do mesmo totem ou clã. Para exemplificar o teor dessas proibições, as transgressões a lei totêmica podem ser punidas com a morte, em algumas tribos analisadas.

Avançando na obra em questão, o pai da psicanálise investiga o significado de tabu e suas implicações para as sociedades e indivíduos que nele acreditam. O tabu relaciona-se tanto com o sagrado quanto com o profano, o proibido, trazendo a si mesmo o sentido de “algo inabordável”, como diz Freud, “sendo principalmente expresso em proibições e restrições”. Os tabus, entre os povos primitivos, diziam respeito a pessoas importantes num clã ou tribo, as pessoas fracas e indefesas e a objetos determinados, bem como certos lugares tidos como sagrados ou não. A transgressão de algum desses tabus ocasionava punições dos mais variados tipos ao transgressor; sendo que em certas ocasiões acreditava-se que o próprio tabu se encarregava de castigar àquele que infringiu a lei do tabu. Outra prática interessante ligada ao desrespeito a algo considerado tabu são os rituais para anular a “má sorte”. Quando um tabu era transgredido o indivíduo infrator se servia de certos rituais, comportamentos aparentemente inexplicáveis, a fim de se purificar. E este é um dado muito importante para a psicanálise, se levarmos em consideração a gama de comportamentos extravagantes praticada por neuróticos para amenizar alguma consequência advinda da quebra de tabus. Como podemos observar, ainda hoje muitos de nós recorrem a rituais que mantêm ligação íntima com práticas consideradas tabus, quaisquer que sejam elas.
Acerca do que há pouco foi dito, Freud afirmava que “as proibições morais e as convenções pelas quais nos regemos podem ter uma relação fundamental com esses tabus primitivos”. Já quanto a relação entre o tabu e as proibições obsessivas dos neuróticos Freud diz:
“[...] essas proibições são igualmente destituídas de motivo, sendo do mesmo modo misteriosas em sua origem. Tendo surgido em certo momento não especificado, são forçosamente mantidas por um medo irresistível. Não se faz necessária nenhuma ameaça externa de punição, pois há uma certeza interna, uma convicção moral, de que qualquer violação conduzirá a desgraça insuportável”. (Freud, 1913, p. 24)

Como se vê, o totem e o tabu em uma sociedade - ou qualquer grupamento humano -, exerce grande influência e até mesmo pressão para aqueles que os praticam ou os violam. Devemos nos recordar do mito explicativo do pai primevo, elaborado por Freud. O pai, o chefe, de uma horda primitiva reinava soberanamente e desfrutava de muitos privilégios; tal posição era causa de inveja, mas também de temor e respeito por parte de seus subjugados. Atentar contra a vida do pai primevo era cair em grande desgraça. No entanto, cansados das opressões e desmandos de seu primeiro genitor, os filhos da horda se rebelam e tiram a vida de seu pai. Apesar de certo alívio por matarem o chefe da horda e se verem livres das opressões sentidas, em seguida ao êxtase sobrevém a dor pela culpa do assassinato. Apesar da hostilidade do pai primevo este também era fornecedor de proteção e cuidados dispensados a seus filhos. Matá-lo, portanto, era violar um tabu e cometer um ato proibido; era atentar contra um ser sagrado e a punição chegaria aos descendentes da horda em forma de culpa e remorso. Nisso observamos, tal como acreditava Freud, que o totem e o tabu e as práticas que os cercam são extremamente antigas e ressoam até nossos dias, quando ganham outras formas nas instituições e comportamentos humanos.

Freud ainda discute a formação da sociedade através do mito criado por ele mesmo, a respeito do pai primevo.  Segundo Freud, o assassinato do pai primevo por seus filhos geraria na sociedade recém-criada o sentimento de culpa que assombraria as relações humanas. Como dito no texto, o homem pagará por esse crime original, pagará sua dívida ancestral com a neurose, através da permanência desses estados instintivos originais atualizados no presente. O relato mítico introduz na psicanálise uma lógica na qual o objeto é imaginário, mas, a partir dessa fantasia primordial, produz uma dívida simbólica em relação ao pai, que tem agora força de lei.


  
REFERÊNCIAS

FREUD, S. Totem e tabu. Rio de janeiro: Imago, 1974 (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas e Sigmund Freud, v. XIII)


domingo, 11 de março de 2018

Sobre o Filme Patch Adams, O Amor é Contagioso. Ética e Psicanálise


A psicologia e a psicanálise relacionam-se com o comportamento humano, manifesto e inconsciente. Para tanto, não faltam materiais de análise sobre a diversidade de expressões humanas. Sendo assim, escolho como material de reflexão sobre conceitos psicanalíticos, cenas do filme Patch Adams, o amor é contagioso.

Quero aqui lidar com os conceitos psicanalíticos de desejo e melancolia, sobre certas cenas do filme. Lembremos que o desejo nasce com as primeiras vivências de satisfação, com a formação do aparelho psíquico; e que, invariavelmente, o desejo se vincula ao objeto de sua satisfação. É necessário que algo nos desperte o desejo a fim de nos movimentarmos em relação a esse mesmo algo – o objeto. Dito isto, cito a cena do filme na qual Patch Adams, interpretado por Robin Williams, decide se internar num hospital psiquiátrico, depois de uma frustrada tentativa de suicídio. Nesta instituição, Patch interage com outros internos e, após perceber que pode auxiliá-los de alguma maneira, nasce nele o desejo de ajudar outras pessoas através da medicina. Vemos aqui que o desejo impulsiona Patch Adams para uma nova postura diante da vida, o que o leva a deixar o hospital no qual se internara e a cursar medicina.

Já durante sua formação, Patch conhece uma moça que virá a ser sua namorada ao longo da trama. Ela é Carin Fisher, interpretada por Monica Potter. Os dois começam um relacionamento amoroso (não sem antes alguma resistência por parte de Carin) e compartilham agradáveis experiências juntos. Notemos aqui que os momentos vividos por ambos os personagens trazem satisfação e gozo aos mesmos, o que nos leva a concluir que eles procuram a companhia um do outro com o objetivo de repetir essas experiências agradáveis. Lembremos que uma característica do desejo é a sua repetição; isto poderemos explorar nas associações seguintes.

Após um período de felicidade na vida de Patch, devido ao seu desempenho acadêmico e a sua boa relação amorosa, uma tragédia, porém, lhe sobrevém. A namorada dele, Carin, é assassinada por um psicopata. Atingido por enorme dor, Patch Adams se afasta de suas atividades universitárias e, consequentemente, deixa de criar momentos de alegria para seus pacientes e outras pessoas. Observemos aqui um acontecimento que vai ao encontro de outro conceito da psicanálise: a melancolia. Com a morte de Carin, Patch se torna profundamente triste, configurando em sua vida um quadro de melancolia. Freud (1917) descreve tal comportamento como um estado de ânimo profundamente doloroso, desinteresse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição geral da capacidade de realizar tarefas e pela depreciação do sentimento de Si, com censuras e insultos a si mesmo.

A descrição da melancolia feita cima é exatamente a situação vivida por Adams após a perda de seu objeto de amor. Observemos que este quadro de profunda dor sucede a todos nós, quando investimos demasiada quantidade de energia psíquica sobre um alvo (objeto) de nossos desejos. Com a eventual perda daquilo que dizíamos amar, somos abatidos por uma brutal sensação de incapacidade diante do mundo e das tarefas diárias. Não é mais possível repetir situações com algo ou alguém que nos proporcionava enorme prazer. Na melancolia o próprio Eu do indivíduo sente-se empobrecido e sem forças. Devemos considerar em nossas reflexões que tanto os conceitos de desejo e melancolia vinculam-se ao inconsciente. Sendo a melancolia um estado de perda do objeto que escapa à consciência, pois a pessoa não sabe responder exatamente o que se perdeu dentro dela com o desaparecimento do que lhe era amado.

No filme, após esforços para sair de situação tão constrangedora, Patch decide dar sentido novo à dor que o incomoda. Assim, ele volta a desempenhar suas atividades, utilizando essa mesma dor como impulso novo diante de suas atividades profissionais. Percebamos aqui que mesmo quando estava limitado pela depressão, havia no íntimo de Patch Adams o desejo para realizar sua própria melhora. A fim de não divagarmos muito, resta apenas pontuar que o desejo está sempre presente em nossas vidas, em qualquer situação que nos encontremos.

segunda-feira, 5 de março de 2018



Atividade 12 - Paixões e Psicanálise

Freud sempre considerou o ser humano como parte de uma natureza, estando este, então, sujeito as mesmas leis e causas naturais que governam qualquer outro ser vivo. Assim, para tal comportamento emitido pelos indivíduos, haveria uma causa natural que o desencadeasse, fosse esse comportamento saudável ou patológico.

Lembremos que Freud era neurologista e que tencionava explicar toda a gama de comportamentos humanos através dos estudos e pesquisas dos neurônios. Prosseguindo nesta direção, Freud demonstra que estímulos percorrem os neurônios do sistema nervoso e que estes estímulos procuram escoar-se e, também, reservar uma quota mínima a fim de manter seu nível constante. Todo esse processo de escoamento, retenção e conservação de estímulos pelos neurônios tem como função controlar o princípio de prazer e, consequentemente, guiar os sujeitos em suas necessidades de vida.

Atentemos ao fato que Freud constantemente fala sobre quantidades de estímulos, o que deixa claro a função quantitativa do sistema nervoso. Deste modo funções como a percepção e recordação são exercidas. Apesar de a explicação quantitativa demonstrar como certas atividades são exercidas pelo organismo, ela não dá conta de elucidar as verdadeiras motivações de nossas ações e outros comportamentos. Isto obriga Freud a reconhecer um ponto de vista qualitativo também existente no funcionamento e constituição das funções mentais e psíquicas.

Mais adiante em seus trabalhos, Freud compreende que muitos dos comportamentos patológicos de seus pacientes estariam além da mera intensidade e quantidade variáveis de estímulos. Haveria algo mais na psique humana que precisava ser investigado; algo de teor qualitativo que exigia atenção fora do campo da consciência. Embora concordasse com pensadores como Condillac a respeito de alguns processos sensoriais e como estes interferem nas produções mentais dos sujeitos, Freud dá um passo muito importante com relação a processos inconscientes que ocorrem na vida mental de todos nós. Longe de serem coisas fora da compreensão humana, o pai da psicanálise se esforça para demonstrar como tais processos seguem determinadas leis estabelecidas pela psique, sendo, portanto, uma atividade de cunho natural na constituição dos indivíduos. Mais tarde teorias seriam elaboradas com respeito ao aparelho psíquico e sua relação inconsciente de obtenção de prazer e, consequentemente, o evitar de seu oposto, o desprazer. Tal elucidação seria de grande importância para explicar determinados comportamentos e motivações realizados pelos seres humanos.

sábado, 14 de outubro de 2017


1 – Como a linguagem é entendida pelo autor do texto?

A linguagem é entendida como uma espécie de memória social coletiva. Nela o homem guardou tudo o que aprendeu durante suas experiências, ao mesmo tempo que as transmitia aos seus descendentes. Esta transmissão ocorreu primeiramente de forma oral e, depois, pela escrita; assim todo o saber humano aprendido até então era passado de geração em geração. Pela linguagem todos os atos humanos eram nomeados e todas as coisas classificadas, o que possibilitou ao ser humano não apenas repassar aos descendentes o que fora aprendido, mas também criar coisas novas que fazem parte de sua cultura.

2 – O que é educação?

Como primeira definição o autor diz que “educação é uma atividade mediante a qual os saberes, conhecimentos e valores inventados pelos homens são transmitidos”. Entretanto o autor chama a atenção para o que foi transmitido de uma geração a outra: nem tudo tem sua serventia; o que foi necessário em uma época pode não encontrar utilidade no momento atual, o que força as atuais gerações buscarem novas formas de lidar com situações elaboradas pelo presente contexto. Nas palavras do autor “ela (a educação) não é apenas transmissão do legado passado, mas preparação para a criação, para busca de caminhos novos a partir dos desafios do presente”.

3 – Qual a relação existente entre o conceito de linguagem e educação?

Penso que a relação existente seja bem estreita. Como dito mais acima, a linguagem assemelha-se à memória social coletiva. Tudo o que o ser humano aprendeu deve ser transmitido aos seus descendentes. É neste processo, então, que verificamos a ação educativa. Ensinamos aos mais novos o que por nossa vez aprendemos, quaisquer que tenham sido assituações. Assim educamos as gerações, pela linguagem falada e por meio de outras formas de comunicação.

4 – Em que sentido a educação pode ser entendida como processo criativo?

Como já mencionado acima, a educação não se restringe ao saber acumulado por gerações passadas e posteriormente transmitidas às gerações futuras. Não é um ato meramente repetitivo. Os seres humanos do presente momento têm que encontrar soluções para problemas e indagações atuais. Neste atualizar de pensamentos e comportamentos é que podemos verificar o processo criativo. O novo se faz presente a fim de buscar respostas que o contexto atual demanda.

5 – Que conclusões podemos tirar da narração dos Índios das Seis Nações e os governos da Virgínia e Maryland?

Podemos refletir sobre as diversas culturas existentes em nosso planeta e suas várias formas de transmitir os seus ensinamentos. É preciso levarmos em conta as necessidades da comunidade em questão. Nem sempre será útil ensinarmos aos povos de cultura diversa a nossa valores e educação referentes a certos aspectos de nossa cultura. Se no cotidiano de suas comunidades não houver aplicabilidade prática do que lhes foi ensinado, então o saber transmitido se torna um tanto estéril para certas práticas comunitárias.

6 – O que o texto de Nietzsche sobre a metamorfose do espírito pode nos ensinar sobre educação?


Nistzsche metaforicamente fala exatamente o que temos discutido até aqui. Quando recebemos o conhecimento de nossos ancestrais, nós os aceitamos sem hesitar (camelo). Nos agarramos a esta herança e seguimos em frente em nossa jornada evolutiva. Mas chega o momento no qual percebemos que a maneira como fomos educados no passado, não é capaz de resolver todas as nossas questões. Agora amadurecemos um pouco mais e não estamos, como antes, tão submissos quanto ao funcionamento do mundo. Muitas vezes (leão) nos rebelamos contra algumas tradições e buscamos resolver as coisas a nossa maneira. Porém, nova mudança se faz necessária. Se por um lado parte das nossas tradições já não surte o efeito esperado no presente contexto social, outra parte pode nos ajudar a criar situações completamente novas que nos auxiliem na constante reconstrução no mundo a nossa volta (criança). Reconstrução esta que não é apenas externa; ela também, e essencialmente, é interna, pois relaciona-se à reeducação humana em direta razão aos novos anseios da humanidade.

Totem e Tabu

Em Totem e Tabu, Freud analisa e discute a organização das sociedades ditas primitivas com base nas relações destas com seus totens ...